sexta-feira, 30 de março de 2012

SÉRIE QUESTÕES COMENTADAS E RESPONDIDAS 802


A PARTIR DE 19 DE MARÇO DE 2012 E ATÉ 21 DE ABRIL DE 2012, SERÁ POSTADA DIARIAMENTE UMA QUESTÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA DE CONCURSO ELABORADO PELA CESGRANRIO, EM NÍVEL MÉDIO, COM VISTAS AO CONCURSO DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF

O texto abaixo é base para a questão 802


De quem são os meninos de rua?

Eu, na rua, com pressa, e o menino segurou no meu braço, falou qualquer coisa que não entendi. Fui logo dizendo que não tinha, certa de que ele estava pedindo dinheiro. Não estava. Queria saber a hora. Talvez não fosse um Menino De Família, mas também não era um Menino De Rua. É assim que a gente divide. Menino De Família é aquele bem-vestido com tênis da moda e camiseta de marca, que usa relógio e a mãe dá outro se o dele for roubado por um Menino De Rua. Menino De Rua é aquele que quando a gente passa perto segura a bolsa com força porque pensa que ele é pivete, trombadinha, ladrão.
Ouvindo essas expressões tem-se a impressão de que as coisas se passam muito naturalmente, uns nascendo De Família, outros nascendo De Rua. Como se a rua, e não uma família, não um pai e uma mãe, ou mesmo apenas uma mãe os tivesse gerado, sendo eles filhos diretos dos paralelepípedos e das calçadas, diferentes, portanto, das outras crianças, e excluídos das preocupações que temos com elas.
É por isso, talvez, que, se vemos uma criança bem--vestida chorando sozinha num “shopping Center” ou num supermercado, logo nos acercamos protetores, perguntando se está perdida, ou precisando de alguma coisa. Mas, se vemos uma criança maltrapilha chorando num sinal com uma caixa de chicletes na mão, engrenamos a primeira no carro e nos afastamos pensando vagamente no seu abandono.
Na verdade, não existem meninos DE rua. Existem meninos NA rua. E toda vez que um menino está NA rua é porque alguém o botou lá. Os meninos não vão sozinhos aos lugares. Assim como são postos no mundo, durante muitos anos também são postos onde quer que estejam. Resta ver quem os põe na rua. E por quê.
[...]
Quem leva nossas crianças ao abandono? Quando dizemos “crianças abandonadas”, subentendemos que foram abandonadas pela família, pelos pais. E, embora penalizados, circunscrevemos o problema ao âmbito familiar, de uma família gigantesca e generalizada, à qual não pertencemos e com a qual não queremos nos meter. Apaziguamos assim nossa consciência, enquanto tratamos, isso sim, de cuidar
amorosamente de nossos próprios filhos, aqueles que “nos pertencem”.
Mas, embora uma criança possa ser abandonada pelos pais, ou duas ou dez crianças possam ser abandonadas pela família, 7 milhões de crianças só podem ser abandonadas pela coletividade. Até recentemente, tínhamos o direito de atribuir esse abandono ao governo, e responsabilizá-lo. Mas, em tempos de Nova República*, quando queremos que os cidadãos sejam o governo, já não podemos apenas passar adiante a responsabilidade. COLASANTI, Marina. A casa das palavras. São Paulo: Ática, 2002. Adaptado.

* Nova República: termo usado à época em que a crônica foi escrita (1986) para designar o Brasil no período após o fim do regime militar.
802. (CASA DA MOEDA – Assistente Téc. Admin. – Programador de Computador-2012) O fragmento abaixo apresenta um ponto de vista que é justificado por um argumento apresentado no texto.

“Talvez não fosse um Menino De Família, mas também não era um Menino De Rua.” (5º período do 1º parágrafo)

A passagem do texto que justifica esse ponto de vista é:

(A) “certa de que ele estava pedindo dinheiro.” (2º período do 1º parágrafo)
(B) “Menino De Rua é aquele que quando a gente passa perto segura a bolsa com força porque pensa que ele é pivete, trombadinha, ladrão.” (último período do 1º parágrafo)
(C) “Na verdade, não existem meninos DE rua. Existem meninos NA rua.” (1º período do 4º parágrafo)
(D) “Os meninos não vão sozinhos aos lugares.” (2º período do 4º parágrafo)
(E) “7 milhões de crianças só podem ser abandonadas pela coletividade.” (1º período do último parágrafo)

Comentários.

Questão sobre interpretação de texto.

Nas assertivas (A) e (B) há apenas impressões da autora que não justificam o ponto de vista do enunciado.

A construção da alternativa (C) justifica plenamente a afirmativa contida no enunciado.

As informações contidas nas opções (D) e (E) não justificam a frase do enunciado, mas o abandono a que estão relegados.

Resposta: C.

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