quinta-feira, 29 de março de 2012

SÉRIE QUESTÕES COMENTADAS E RESPONDIDAS 801


A PARTIR DE 19 DE MARÇO DE 2012 E ATÉ 21 DE ABRIL DE 2012, SERÁ POSTADA DIARIAMENTE UMA QUESTÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA DE CONCURSO ELABORADO PELA CESGRANRIO, EM NÍVEL MÉDIO, COM VISTAS AO CONCURSO DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF

O texto abaixo é base para a questão 801


De quem são os meninos de rua?

Eu, na rua, com pressa, e o menino segurou no meu braço, falou qualquer coisa que não entendi. Fui logo dizendo que não tinha, certa de que ele estava pedindo dinheiro. Não estava. Queria saber a hora. Talvez não fosse um Menino De Família, mas também não era um Menino De Rua. É assim que a gente divide. Menino De Família é aquele bem-vestido com tênis da moda e camiseta de marca, que usa relógio e a mãe dá outro se o dele for roubado por um Menino De Rua. Menino De Rua é aquele que quando a gente passa perto segura a bolsa com força porque pensa que ele é pivete, trombadinha, ladrão.
Ouvindo essas expressões tem-se a impressão de que as coisas se passam muito naturalmente, uns nascendo De Família, outros nascendo De Rua. Como se a rua, e não uma família, não um pai e uma mãe, ou mesmo apenas uma mãe os tivesse gerado, sendo eles filhos diretos dos paralelepípedos e das calçadas, diferentes, portanto, das outras crianças, e excluídos das preocupações que temos com elas.
É por isso, talvez, que, se vemos uma criança bem--vestida chorando sozinha num “shopping Center” ou num supermercado, logo nos acercamos protetores, perguntando se está perdida, ou precisando de alguma coisa. Mas, se vemos uma criança maltrapilha chorando num sinal com uma caixa de chicletes na mão, engrenamos a primeira no carro e nos afastamos pensando vagamente no seu abandono.
Na verdade, não existem meninos DE rua. Existem meninos NA rua. E toda vez que um menino está NA rua é porque alguém o botou lá. Os meninos não vão sozinhos aos lugares. Assim como são postos no mundo, durante muitos anos também são postos onde quer que estejam. Resta ver quem os põe na rua. E por quê.
[...]
Quem leva nossas crianças ao abandono? Quando dizemos “crianças abandonadas”, subentendemos que foram abandonadas pela família, pelos pais. E, embora penalizados, circunscrevemos o problema ao âmbito familiar, de uma família gigantesca e generalizada, à qual não pertencemos e com a qual não queremos nos meter. Apaziguamos assim nossa consciência, enquanto tratamos, isso sim, de cuidar
amorosamente de nossos próprios filhos, aqueles que “nos pertencem”.
Mas, embora uma criança possa ser abandonada pelos pais, ou duas ou dez crianças possam ser abandonadas pela família, 7 milhões de crianças só podem ser abandonadas pela coletividade. Até recentemente, tínhamos o direito de atribuir esse abandono ao governo, e responsabilizá-lo. Mas, em tempos de Nova República*, quando queremos que os cidadãos sejam o governo, já não podemos apenas passar adiante a responsabilidade. COLASANTI, Marina. A casa das palavras. São Paulo: Ática, 2002. Adaptado.

* Nova República: termo usado à época em que a crônica foi escrita (1986) para designar o Brasil no período após o fim do regime militar.
801. (CASA DA MOEDA – Assistente Téc. Admin. – Programador de Computador-2012) Com base na leitura do texto, conclui-se que o principal objetivo da autora é

(A) resolver o problema das crianças abandonadas.
(B) comparar meninos de rua com meninos de família.
(C) narrar a história do menino que a interpelou na rua.
(D) convencer o leitor de que não existem meninos na rua.
(E) discutir a responsabilidade pela existência de crianças nas ruas.

Comentários.

Questão sobre interpretação de texto.

Pela litura atenciosa do texto, verifica-se que o objetivo da autora não é apenas resolver o problema das crianças abandonadas, muito menos comparar meninos de rua com meninos de família, pois essa visão é secundária no texto. Portanto estão incorretas as assertivas (A) e (B).

A fase narrativa inicial é somente um recurso de que a autora se utilizou para discutir o problema, mas sua intenção não é a de narrar a história do menino que a interpelou na rua. Errada, desta forma, a opção (C).

As comparações de que a autora se vale para comparar as características de meninos de rua com meninos de família não têm intenção de convencer o leitor de que não existem meninos de rua, até porque ela reconhece a existência de meninos abandonados. Errada a alternativa (D).

Correta a assertiva (E), porquanto contém a intenção da autora do texto, que é discutir a responsabilidade pela existência de crianças nas ruas.

Resposta: E.

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