domingo, 12 de junho de 2011

ORIENTAÇÃO DA SEMANA 9


O QUE É PARALELISMO EM LÍNGUA PORTUGUESA?

Esta palavra é usada, entre outros casos, para definir simetria no emprego de determinadas palavras. Numa frase como "gosto de leite e de refrigerante", os dois substantivos (leite e refrigerante) foram usados - simetricamente - sem artigo.

Também seria simétrica a construção da frase com artigo para os dois substantivos: "Gosto do leite e do refrigerante." É claro que essas frases não seriam rigorosamente equivalentes. Sem o artigo, fala-se genericamente das duas bebidas. Com o artigo, pressupõe-se uma certa determinação dessas bebidas. Gosta-se de um determinado leite e de um determinado refrigerante.

Seria um tanto quanto esquisito dizer "Gosto de leite e do refrigerante", ou "Gosto do leite e de refrigerante". Só uma situação muito particular justificaria a presença do artigo para um substantivo e sua ausência para o outro.

Vejamos outro caso: "Não vou a jogos, nem a bailes." Aqui os dois substantivos (jogos e bailes) foram usados sem artigo. Poderiam ser usados com artigo: "Não vou aos jogos, nem aos bailes." De novo, o sentido não é o mesmo. No primeiro caso, o falante quer dizer que não vai a nenhum tipo de jogo e a nenhum tipo de baile. No segundo caso, o cidadão não vai a jogos e a bailes específicos, dos quais certamente se falou antes.

Um belo caso ocorre com o verbo preferir. Na língua oral, costuma-se empregar esse verbo com a combinação "preferir x do que y" ("Prefiro cinema do que teatro", por exemplo). Há até um exemplo clássico, tirado de famosíssima canção interpretada por Raul Seixas: "Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo." A gramática normativa e os dicionários de regência, no entanto, dizem que, no padrão culto, esse verbo se constrói com a combinação "preferir x a y" ("Prefiro cinema a teatro"). Isso transformaria a frase da canção de Raul em "Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante a ter aquela velha opinião formada sobre tudo". Será que desta forma daria para encaixar na canção do Raul?

Voltando à questão do paralelismo e à regência culta do verbo preferir, pode-se dizer "Prefiro cinema a teatro", ou "Prefiro o cinema ao teatro". Estranhas seriam as construções "Prefiro cinema ao teatro", ou "Prefiro o cinema a teatro".

Vejamos mais um caso de falta de paralelismo e de simetria, agora analisando-se um anúncio da empresa de aviação TAM: "A ponte que une preço à qualidade." O substantivo "preço" aparece sem artigo, enquanto o substantivo "qualidade" aparece com artigo (à = a+a). Duas opções podem ser feitas aqui para se corrigir este problema: 1) artigo para os dois substantivos: "A ponte que une o preço à qualidade"; 2) os dois substantivos sem artigo: "A ponte que une preço a qualidade." E o "a", é claro, sem acento indicador de crase, ou seja, sem acento grave. Parece que a segunda opção é a melhor, pelo caráter genérico e indeterminado dos dois substantivos.

Para você perceber bem a questão do paralelismo no emprego do artigo, use o artifício da troca do feminino pelo masculino. Você poderia dizer "A ponte que une qualidade a preço" ou "A ponte que une a qualidade ao preço". Por que é mais fácil perceber a falta de paralelismo em uma frase com "A ponte que une qualidade ao preço" do que em uma como a da TAM ("A ponte que une preço à qualidade")? Porque a leitura de "à" é igual à de "a". No caso da frase da TAM, só se nota a diferença no papel. Ler "à" é como ler "a". Mas ler "a" não é como ler "ao". No caso de "A ponte que une qualidade ao preço", não é preciso escrever para notar a falta de paralelismo. Os ouvidos denunciam.

Os jornais gostam de abusar desse caso de falta de paralelismo. Títulos como "Santos precisa vencer Flamengo e o Botafogo" deixam bem claro esse procedimento.

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